sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Não intrínseca - mas sintomática



Com Carlos Xavier dizemos
                    





que de amarelo não!, como quem diz haver identidade na camisola que se veste e mais aproveita a chance para lembrar que a publicidade nesta desqualifica aquela - ou, qualificando-a, coloniza-a.

O Sporting não é um intervalo: é o jogo.




terça-feira, 25 de março de 2014

6-12: havia de haver negra


82 minutos que haviam de ser esticados. À melhor de 5, João: fica para a próxima.

Versus Real: os jogos do ano na BBVA '14



E à 29ª jornada há Reais cambalhotas, quão fora quão em casa. Ligado nas duas vazas, não basta ser Ronaldo para se ir rolando - e no entanto ela gira, ó se gira, karmas que não são karmas, mais carmos, fados. É a ficção realista, mesmo, quem estremece. A Real Espanha.



Não uma, mas duas vezes e de novo. De forma pungente, lendária. Na luta pelo título, o underdog da capital, o Sporting de Espanha, não de nome mas em analogia apressada eventual com a lógica de grandeza trinitária do campeonato de Portugal, saiu assim em primeiro da labuta Real Madrid-Barcelona, o desafio-mor do qual os catalães saíram vencedores. Por outra, em Almería,



algo de resistente, do mais a mar acima da linha de água de volta, travou a marcha da Real Sociedad na tabela classificativa, onde está agora atrás dess'outro conjunto andaluz - o Sevilla FC - na perseguição aos rivais bascos do Athletic, que ocupando a 4ª posição estão no último spot que pode ligar à macro dos campeões, Athletic por sua vez historicamente emulado em Madrid no Club Atlético que ora lidera La Liga.

Não se trata sempre de uma luta pela manutenção, Reinaldo? Não, Roldão?

Pois não: rolamentos, então!



quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

A perfect day to lock yourself inside







E à segunda - à Terça - o derby ocorreu, favorável aos da casa, ante um Sporting já sem surpresas, anuladas pela manutenção de uma equipa revolucionada, anulado o efeito que no Domingo, não estivesse o Estádio da Luz a desagregar-se (ah, lãzudo!), ditaria, decerto, um arrojo diverso no lançamento ao jogo com tudo. Tal momentum, porém, foi inteiramente perdido no adiamento da partida - e só a teimosia criativa, por assim dizer, do técnico do Sporting, ditou a insistência numa fórmula cuja grande (única?) virtude era a da surpresa, esvaziando-a assim de qualquer possibilidade tangível de sucesso. Mais do que a questionável inclusão do recém-chegado Héldon na equipa principal (Héldon que até foi dos menos maus em campo), o reiterar da aposta numa frente de ataque com 2 pontas-de-lança, mais desguarnecendo o meio-campo encostando André Martins à direita, revelou-se uma aposta sofrível, que nunca esteve perto de dar certo. Como se não bastasse não ter dois habituais titulares ao dispor, na lateral esquerda (Jefferson) e na vital posição de trinco (William Carvalho), Jardim optou por insistir numa aposta que só poderia colher pela surpresa. Desfalcado desta, porque revelada a priori, por entre bocados do Estádio, Jardim achou que não havia nada que reajustar a estratégia - e que mal o achou, que não acertou inclusive com meia das substituições que operou (a segunda, então... Magrão?).

Não é raro que a tentação de transfigurar a equipa antes de um jogo importante ocorra a um treinador. Parece que já vê as manchetes do dia seguinte, justamente apontando-o como um mestre, um visionário, um mago que tira coelhos da cartola como quem sabe lá bem. Por norma, porém, é o contrário. Jesus que o diga, que já por várias vezes resolveu inventar, por norma em desafios internacionais ou contra o FC Porto, quase sempre dando-se mal.

Se ainda há um problema de identidade no Sporting, tal é precisamente o de a reformular ao primeiro desafio grande. Não incidentalmente, veja-se a menor preponderância da cantera nesta partida. Wilson Eduardo, por exemplo, que vem sendo mais o consistente extremo ao longo desta época, não jogou nem um minuto. Possa Jardim aprender com o erro flagrante - e lá terá que ser o Olhanense a pagar a factura. Hoje, de qualquer modo, com as barbas de molho e um nevoeiro sebastiânico, just a perfect day to recollect.

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Tradução, anglofonia e políticas de "verdade": um tuga na Arábia

Vítor Pereira (VP) deitou os lábios no trombone e agora percorre as redes sociais e os media com a sua "explosão" cómico-trágica de tuguice em força: My words come from my heart!

Num assomo reivindicativo, Vítor Pereira vincula à sua pessoa, ao mesmo tempo, a propriedade sobre a análise e a autoridade no testemunho de jogo, na boa tradição tuga. Ignora de imediato - e com alguma arrogância, há que dizer - as instruções do moderador, que pede uma descrição "técnica"; não percebo tampouco como uma avaliação da tecnicidade em campo pode ou deve ignorar a prestação a título individual deste ou daquele jogador, pelo que há um julgamento apressado do moderador quando tenta "calar" VP quando este prontamente começa a chamar os bois pelos nomes.

O jogo em questão foi a 13 de Dezembro, contra o Al-Ittifaq (Ettifaq? as grafias alternam). Não encontrei registo vídeo do jogo mas o importante foi a expulsão de Mansour aos 23' aparentemente, no testemunho de VP, provocado por uma reação infantil à provocação de outro jogador, que resultou num 10 contra 11 e a evidente derrota. 
 
VP não é o único português na equipa (o atacante Luís Leal faz parte do plantel) nem é o clube adverso a treinadores importados: apenas 5 treinadores foram nativos da Arábia Saudita num clube que conta, inclusivamente, com a mãe de todos os personagens Luiz Felipe "E o burro sou eu?" Scolari na sua história. É por isso apressado falar aqui de conflito de culturas ou mesmo de uma afirmação patriótica de contornos nacionalistas: a história do clube é de resto a história dos clubes no mundo, pontos confluentes de uma economia de jogadores pautada pela transnacionalidade do networking futebolístico.

Nesta mediação, sobra o english macarrónico como plataforma linguística, certamente, à medida das possibilidades dos agentes em cena e de acordo com as regras do jargão, importado as is ("What I saw... in first place, I saw a bad professional player."). A tradução escala progressivamente entre o arábico, o inglês mais apurado do moderador, o inglês menos apurado do VP e o português na sua cabeça, manifesto nas patadas gramaticais que reforçam o caricato da instalação.


I speak what I saw, no what you want that I want to see. A presença do tradutor conclui o trágico encenado entre o real testemunho do treinador, a tradução proto-english e o filtro falhado do moderador. A frustração do homem que reverte para arábico o intraduzível espetáculo que certos jornalistas, ao que parece, dificilmente entenderam; o sussurrar impotente a um treinador tuga determinado em se afirmar. No futebol, como na antropologia, quem delega a informação segura a mediação do absurdo. Como na antropologia, fico curioso quanto à tradução árabe que foi devolvida aos jornalistas (como na antropologia, omitida na western media) e quanto ao sussurro no ouvido de VP. A tarefa do tradutor é ingrata, porque essa é a natureza da comunicação, seja aqui ou seja na Arábia.

domingo, 5 de janeiro de 2014

Mas qual óbito? O óbito?

Se é para escrever, que se escreva, ou vamo-nos todos e que fique o texto. 



No entanto, a verificar-se, que o óbito seja devidamente marcado pela real partida do Pantera Negra. Vivemos tempos turbulentos, caem os ícones do velho milénio, e porque futebol é política e a política é um jogo, remeto a reflexão para um texto de Nuno Domingos - desenterrado, em boa menção, pela dreamachine facebookiana - sobre o homem, o jogo, o Estado Novo e a identidade racial-nacional:

Apesar do reconhecimento do seu mérito, a apreciação entusiástica que mereceu não resultava de uma inusitada consciência de igualdade racial, tão-pouco poderia servir de prova de que a sociedade portuguesa estava preparada, devido a uma característica cultural adquirida, a aceitar a diferença. A relevância de Eusébio dependia do seu valor enquanto elemento de uma economia particular, no contexto de uma troca muito específica, proporcionada pelo processo de profissionalização do futebol. O jogador moçambicano oferecia quase todas as semanas capitais preciosos à representação nacional mas sobretudo clubista, a uma específica cidadania exercida diariamente por muitos indivíduos, quase todos homens, durante incontáveis encontros, conversas e imensas retóricas, nos quais se manifestava uma identificação, uma forma de apresentação na vida de todos os dias. Os que no campo representavam com o seu génio desportivo esta pertença (ser do Benfica, do Sporting, do Porto, ou da selecção) mereciam quase todas as recompensas, independentemente da sua origem ou da cor da sua pele. O valor de Eusébio nesta economia particular dependia da manutenção de um nível performativo constante, de um ritmo laboral intenso, com consequências físicas conhecidas, como asseveram as inúmeras cirurgias ao seu martirizado joelho.

And so on, and so forth, seguir o linking devido.

sábado, 4 de janeiro de 2014

Pré-aviso de óbito | regresso aos mercados

Lavra o silêncio à falta de expressão dos cronistas cá do burgo, os mais dos quais apenas listados, que nunca, afinal, calçaram neste rectângulo de jogo numa peladinha que fosse. Lavra o silêncio não porque, consensual constatação, não haja do que falar - e, aliás, se fale ali-além, do pédebola nativo & não só -, mas porque nosso plantel não dá garantias. Sem banco que se apresente e com um elenco titular que nem um team de futsal chegou - alguma vez! - a poder assegurar (numericamente mas, não acidentalmente, fisicamente), estamos prostrados ante a incipiência do efeito conjunto deste antibolismo que, se se quis perfilar como uma alternativa à verborreia permanente dos media comentadores, fomentando um alinhavar bem escrito sobre performances e cenas que é raro achar escrutinadas a não ser à flor da cefaleia, não conseguiu senão veicular uns quantos fogachos. Ora, só em lume brando poderia isto cozer como deve ser e dar de comer algo consistente a quem de direito, antes de mais a nós próprios, engatados em amenas cavaqueiras ou flashadas excursões analíticas, transcrevendo conversas de café ou apostando em ostentar tais flashs. 

Do malogrado ANTibola, precursor deste antibolismo, manteve-se só o intento congregador - e tudo indica que o desfecho não será muito diferente, mesmo que isto possa ficar em linha para memória futura: óbice ao reconhecimento do óbito de que nestas linhas se dá aviso prévio só visto. Desde que O Encoberto lançou - e muito bem - a época, nada se avançou sobre o que quer que fosse neste entreposto. Desconfiando que, na gaveta de cada antibolista atleta|trein'a'dor de bancada não se alojam crónicas e crónicas que permitam ocupar, com propriedade e usufruto, o espaçotempo decorrido desde o citado lançamento da temporada e concomitante apelo, reabramos o contencioso por ocasião da reabertura do mercado ou calemo-nos para sempre.