domingo, 5 de janeiro de 2014

Mas qual óbito? O óbito?

Se é para escrever, que se escreva, ou vamo-nos todos e que fique o texto. 



No entanto, a verificar-se, que o óbito seja devidamente marcado pela real partida do Pantera Negra. Vivemos tempos turbulentos, caem os ícones do velho milénio, e porque futebol é política e a política é um jogo, remeto a reflexão para um texto de Nuno Domingos - desenterrado, em boa menção, pela dreamachine facebookiana - sobre o homem, o jogo, o Estado Novo e a identidade racial-nacional:

Apesar do reconhecimento do seu mérito, a apreciação entusiástica que mereceu não resultava de uma inusitada consciência de igualdade racial, tão-pouco poderia servir de prova de que a sociedade portuguesa estava preparada, devido a uma característica cultural adquirida, a aceitar a diferença. A relevância de Eusébio dependia do seu valor enquanto elemento de uma economia particular, no contexto de uma troca muito específica, proporcionada pelo processo de profissionalização do futebol. O jogador moçambicano oferecia quase todas as semanas capitais preciosos à representação nacional mas sobretudo clubista, a uma específica cidadania exercida diariamente por muitos indivíduos, quase todos homens, durante incontáveis encontros, conversas e imensas retóricas, nos quais se manifestava uma identificação, uma forma de apresentação na vida de todos os dias. Os que no campo representavam com o seu génio desportivo esta pertença (ser do Benfica, do Sporting, do Porto, ou da selecção) mereciam quase todas as recompensas, independentemente da sua origem ou da cor da sua pele. O valor de Eusébio nesta economia particular dependia da manutenção de um nível performativo constante, de um ritmo laboral intenso, com consequências físicas conhecidas, como asseveram as inúmeras cirurgias ao seu martirizado joelho.

And so on, and so forth, seguir o linking devido.

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