sábado, 2 de junho de 2012

"Os Turcos nem sabem o que os espera"

O mote estava dado, não por um 'Zé Manel' qualquer (Tuga dos sete costados e a contas com outros tantos litros do bom tinto pátrio), mas pela RTP, que, in advance, prometia noite de bola à séria na Luz, naquele que seria - e foi - o último trial antes do arranque do Euro. Ante a selecção Turca, que não disputará o Europeu em questão, nada melhor arranjaram os gurus da RTP na promoção do jogo do que arranjar mais ou menos velada tirada cruzadística, remontando um léxico indígena afinal não assim tão ultrapassado quanto isso, que ao Turco faz(ia) equivaler o Árabe e o Mouro - e, por inerência, o Muçulmano. Ah, Sarracenos cães, pareciam salivar desde já os RTPortugueses, venham cá que de cá não ides sair inteiros, temos experiência bastante em cortar ímpias cabeças, que julgam vocês, mais a mais capitaneados que somos pelo "melhor jogador do mundo" - digam lá na vossa ignara pronúncia, vá, aposto que vos custa: CRISTIano Ronaldo, sim, ah pois é.
(...)
Além de justificar senão um ensaio uma crónica, que não aspiramos a ver surgir em nossa depauperada praça (que também os cronistas de jeito devem ter abalado já daqui e empregam agora suas faculdades tecendo considerações em outros e mais francos linguajares), o neo-orientalismo da RTP e de todos os que por cá fazem de bajular 'a selecção de todos nós' profissão-de-fé (quasi convertendo os adversários em dissidentes a serem queimados em autos-de) dará agora lugar, posto o resultado desfavorável (1-3),  a reformulação discursiva face aos próximos desafios, a contar. Sem sombra de crítica, claro, perante a pedante postura assumida, resta saber que slogans peregrinos arranjará a RTP já para o confronto com a Alemanha. Iremos ouvir falar em Merkel e no 4º Reich? Seria pelo menos projecção politicamente mais ciente, fosse o pédebola lugar de contendas totais - e Portugal, à cabeça, tivesse a autonomia de pensamento para tal, ou fossem pelo menos seus executantes futeboleiros de topo influência determinante no sacudir da modorra politicamente correcta que mantém 'a sociedade' entrevada. Não vale a pena fazer figas, porém, que os que pensam dos mais dos ditos pensam é no próximo penteado ou em como inovar na côr das chuteiras, perante o gáudio de jornalistas que à pála do erário público cumprem com elevado sentido de estado a manutenção da jera alienada.

P.S. - Nisto, se alguém vir uma reportagem em bom vernáculo Tuga sobre a 'cena Turca' na Alemanha, patente também ao nível da elite futebolística (Khedira e Özil sendo os mais mediáticos representantes), comerei o meu chapéu!