quinta-feira, 15 de setembro de 2011

O 11 de Setembro do futebol português!

É certo que este post surge com 4 dias de atraso... mas, ao fim e ao cabo, o 11 de Setembro já é quase como o Natal: é quando um homem (ou uma mulher, evidentemente) quiser! A euforia mediática do último fim-de-semana, volvidos 10 anos sobre a queda das Torres, prova que o 11 de Setembro deixou de ser apenas uma data e passou a ser sinónimo de "acontecimento trágico com capacidade para transformar o mundo". Obviamente, o que é trágico para uns acaba por ser altamente produtivo para outros, que o digam os dirigentes americanos e os fabricantes de armas que, nesse dia, garantiram um livre trânsito duradouro para testar os novos mecanismos de matar pessoas inocentes - digo, terroristas! Mas não é de política internacional que venho aqui falar hoje. Como em quase todos os aspectos da vida, também há um 11 de Setembro no que respeita ao futebol português. Não, não me refiro ao atentado terrorista do sr. Duarte Gomes, na última jornada, pois esse não irá mudar absolutamente nada... nem sequer a vocação do presidente do Vitória de Guimarães para escolher os seus amigos! Falo de um acontecimento bem mais antigo, que remonta a 07 de Dezembro de 1993. (lembram-se, amigos lagartos?)
Pois bem, nesse trágico dia, o Sporting CP deslocou-se à fria Áustria, mais precisamente à cidade de Salzburgo, para enfrentar o Casino local. Na bagagem, os leões de Bobby Robson (RIP, Sir) levavam uma confortável vantagem de 2-0, obtida no velhinho Alvalade. Porém, o encontro que parecia controlado virou-se irremediavelmente contra a equipa portuguesa quando, em cima dos 90 minutos, os austríacos fizeram o 2-0, empatando a eliminatória. Surpreendido, o Sporting não soube reagir à adversidade nem ao ambiente hostil, acabando por sair derrotado do prolongamento por 3-0. A tragédia, porém, não foi a eliminação em si, mas sim o que lhe sucedeu. Na viagem de regresso a Portugal, o irado Presidente Sousa Cintra não conseguiu digerir a frustração e, ainda em pleno vôo, despediu Sir Robson sem qualquer elegância, momento esse que foi várias vezes recordado pelo próprio, posteriormente, como o único despedimento da sua longa e brilhante carreira. Cintra escolheu o jovem Carlos Queiroz para liderar a equipa, treinador que mostrava uma nova face do ambicioso futebol português, bi-campeão mundial de sub-20 e recentemente despedido da Seleção Nacional sénior por ter sugerido "limpar toda a porcaria que existe na Federação", após afastamento da qualificação para o Mundial-94, aos pés da Itália. Este acontecimento, tal qual caixa de Pandora, despoletou uma série interminável de consequências, ainda em vigor, merecendo o título, na minha opinião, de momento mais marcante do futebol português dos últimos 20 anos, pelo menos. Passo a enumerar algumas das consequências do mesmo:
- dias depois deste incidente, os jogadores do Sporting reuniram-se para um jantar de despedida ao Mister Robson; no regresso desse jantar, o jogador Cherbakov sofre um violento acidente de viação, ficando paralisado da cintura para baixo e terminando assim a sua curta e promissora carreira.
- pouco mais de um mês depois, o FC Porto, com uma primeira volta desastrada, sob o comando do retornado Tomislav Ivic (RIP, também), contrata Robson como treinador. Este chegou às Antas acompanhado por um jovem tradutor, de seu nome José Mourinho e teve como principal adjunto o já residente Augusto Inácio. Esta equipa técnica venceu os dois campeonatos seguintes, dando início ao primeiro (e até hoje único) pentacampeonato do futebol português.
- volvidos dois anos e meio, Bobby e Mourinho rumam a Barcelona, vencendo o campeonato espanhol e a Taça das Taças com o contributo de 3 portugueses: Figo, Couto e Baía. O futebol português e os futebolistas lusos começam a ganhar um destaque internacional nunca anteriormente conhecido.
- Augusto Inácio, que bebeu diretamente da sapiência do Inglês, assume o cargo de treinador principal do Sporting em 1999, conseguindo quebrar a hegemonia do Dragão e recuperando um título nacional que escapava aos de Alvalade há 18 anos. (passados uns meses, foi despedido!)
- Por sua vez, Carlos Queiroz, embora tenha conquistado apenas uma Taça de Portugal ao serviço do Sporting, ganhou o protagonismo suficiente para ser convidado por outro Sir, desta feita o escocês Alex Fergusson, para ser o treinador de campo do colosso Man United. Posteriormente, esta opção parece ter contribuído para um olhar mais atento do clube inglês sobre o mercado português, no qual acabou por investir milionariamente nas contratações de Cristiano Ronaldo, Nani e Anderson.
- Em 2000, o principal pupilo de Robson, o jovem Mourinho, abandona o cargo de adjunto de Louis Van Gal, no Barça, e assume a liderança da equipa do Benfica, a convite de João Vale e Azevedo. Porém, a crise directiva do clube da Luz, após mudança de direcção e entrada de Manuel Vilarinho, afasta o jovem técnico dos destinos do clube. Mourinho queria garantias de continuidade, mas Vilarinho mantinha a convicção de que o treinador certo para o Benfica era Toni. Por outro lado, as relações entre Mourinho e um dos membros da velha guarda benfiquista, Jesualdo Ferreira, não eram as melhores. Assim, após alguns meses na Luz, Mourinho derrota os rivais do Sporting (e detentores do título) por 3-0 e demite-se no final do jogo. Curiosamente, o mesmo destino teve Augusto Inácio, o treinador derrotado nessa noite.
- O resto também é história mais que conhecida: após uns meses na União de Leiria, Mourinho ruma às Antas para devolver a glória a um Porto que já não sabia o que era passar 3 anos consecutivos sem títulos. Nos dois anos seguintes, Mourinho conquista dois campeonatos, uma Taça, duas Supertaças, uma Taça UEFA e uma Liga dos Campeões ao serviço dos Dragões...
- Mourinho marca o mundo do futebol e vai somando títulos por onde passa, transformando o Chelsea num dos grandes clubes europeus e devolvendo a glória europeia a um Inter que andava há décadas procurando-a. No Real, o maior desafio da sua carreira está ainda em crescimento.
- Em 2010, o FC Porto decide prescindir dos serviços do desgastado Jesualdo Ferreira (mal-amado no Dragão, muito por culpa do seu passado mas também da sua falta de ambição, apesar de ter conquistado 3 campeonatos) e contratar o pupilo do pupilo de Robson: o ainda mais jovem André Villas-Boas. À semelhança do seu Mestre, André recupera o domínio interno para o FCP e soma-lhe êxito internacional com a conquista da Liga Europa, logo na primeira época completa como treinador principal! No final, ruma ao Chelsea com a promessa de novos títulos e com ar de desafio ao Real Mourinho...
- Falta ainda ver o que conseguirá o pupilo do pupilo do pupilo... mas Vitor Pereira parece estar a começar bem e ter argumentos para dar continuidade a esta sucessão de êxitos que parece interminável!

Por tudo isto, Sousa Cintra, não te deixarei morrer!!! Foste tu quem despoletou tudo isto, marcando o ponto decisivo de viragem no domínio do futebol português! E, para melhor recordar o 11 de Setembro do futebol português, nada como rever os golos dessa fria noite de 07 de Dezembro de 1993:

http://www.dailymotion.com/video/x8d6ur_casino-salzburg-3-sporting-0-de-199_sport

Já que falei da confiança do Novak no comentário ao post anterior...

... devo dizer que apreciei sobremaneira o empate do Benfica frente aos verdadeiros Diabos Vermelhos. Um resultado moralizador para a equipa portuguesa (face a um empate normal e conveniente aos campeões ingleses, que praticamente garantiram o 1º lugar de um grupo em que já se sabe quem vai passar à fase seguinte) que, como é normal nesse clube, levado em ombros pela comunicação social propagandista, irão embandeirar em arco este resultado nos próximos dias, como garantia de um "benfica à benfica" (vá-se lá saber se isso é bom ou mau...). ÓPTIMO, mesmo! Não por um desejo patriótico-hipócrita do género "eu quero é que as equipas portuguesas ganhem" porque, quem me conhece, sabe que "eu quero é que o benfas se f***" e estou-me a c**** para os jogos deles, quer ganhem quer percam, desde que não interfiram com o meu clube. Fico contente pelo boost de moral vermelha, típico desta altura da época, e pela convicção que JJ e seus pupilos sentem neste momento sobre as suas capacidades. Nesse sentido, espero sinceramente que o ésse-éle-bê vença a surpreendente Briosa (desculpa lá, Pedro Emanuel, sei que não mereces isto), para que se desloque ao Dragão, na 6ª jornada, de peito feito e confiante na viitória! Adoro o Benfica de peito aberto no Dragão! Teria algum receio do potencial da equipa benfiquista se, tal como aconteceu no ano transacto na 1ª mão da meia-final da Taça de Portugal, o benfas se deslocasse ao Porto com o orgulho ferido e com todas as cautelas e mais alguma. Esse é o Benfica realista, conhecedor das suas limitações e da sua inferioridade face ao actual campeão... esse é o Benfica perigoso, de que eu não gosto! Quanto ao Benfica de peito feito ao estilo "somos os maiores do mundo e empatamos com o MU em casa porque somos o maior clube do mundo".... bem, esse é o adversário ideal para o embate do Dragão! e espero ver esse Benfica daqui a semana e meia. Por isso, e com todo o respeito... Pedro Emanuel, grande capitão... deixa lá os vermelhos ganharem no próximo fim-de-semana, com goleada, de preferência! Porque eu quero mesmo que eles acreditem e que vão ao Dragão cheios de moral...