segunda-feira, 21 de maio de 2012

Ironias do Destino

Grande fim-de-semana desportivo, para quem acompanha as competições nacionais e internacionais e torce preferencialmente pelos menos favoritos. O momento mais mediático aconteceu ontem, em Munique, onde o Bayern local não conseguiu superiorizar-se aos underdogs de West End London. O empate forasteiro foi justamente recompensado no desempate por penálties, cabendo as honras de selar a vitória a quem mais o merecia: Didier Drogba! Aos 34 anos, o costa-marfinense conquistou o título mais ambicionado, sendo o homem do jogo na final, com um soberbo cabeceamento a restabelecer o empate quando a vitória dos da casa já parecia não fugir. Não sou apreciador do futebol defensivo, mas acredito que cada equipa tem de jogar com os recursos de que dispõe, usando da estratégia que for necessária para triunfar. Nesse sentido, a surpreendente conquista da Champions League pelo Chelsea foi uma recompensa pela vontade, a crença e o trabalho de sacrifício e humildade que a sua equipa soube ter. Uma grande ironia, depois de tudo o que se disse sobre as fragilidades do Chelsea esta época e da final perdida desta mesma forma há 4 anos, após a escorregadela do capitão Terry, que não jogou, mas acabou por erguer a Taça com Lampard. Será este o fim de capitulo da "geração-Mourinho" do Chelsea?

Igualmente notável foi a conquista da Taça de Portugal pela Académica, derrotando os favoritos do Sporting, pela margem mínima, no Jamor. 73 anos é muito tempo e poucos se lembrarão ou terão mesmo vivido o suficiente para recordar o anterior troféu conquistado pela Briosa. Pedro Emanuel, depois de uma época atribulada, conseguiu levar a equipa de Coimbra à glória, juntando à permanência e ao regresso às competições europeia a tão ambicionada Taça! Sporting e Bayern podiam ter feito mais? Talvez. Mas não quero alinhar neste discurso tão português de culpabilização dos derrotados ou de terceiros. Há que dar mérito a quem o tem e o facto de os "pequenos" conseguirem agigantar-se e conquistar troféus é o que torna o futebol um desporto tão entusiasmante. Há que registar, aliás, que ambos estes jogos tiveram arbitragens bastante positivas (não se compreende o arremesso de objetos e as tentativas de agressão por parte de vários adeptos do Sporting ao árbitro Paulo Baptista), sobretudo a impecável atuação de Pedro Proença na final da Champions. Quando muito se critica, ofende e até agride os árbitros portugueses, há que lembrar que estes agentes desportivos fazem o trabalho que poucos gostariam de fazer e é bom ver que, também neste capítulo, o futebol português é capaz de brilhar nos principais palcos mundiais. Sem precisar sequer de expor os motivos, esta é seguramente uma estrondosa ironia!

Mas, para quem esteve atento, muito mais aconteceu neste domingo. O Nápoles venceu a Taça de Itália ao fim de 22 anos sem o Diego Armando, derrotando a Juve por 2-0. Numa época em que foi campeão invicto, o grande Del Piero despede-se assim com uma derrota da sua memorável carreira. Os juvenis do FC Porto conquistaram o campeonato nacional da categoria, uma semana após o Sporting sagrar-se campeão de juniores e o Benfica de iniciados; tal como na época passada, os títulos das camadas jovens ficam repartidos pelos três grandes, embora se tenham alterado as respetivas categorias. No Giro, Joaquin Rodríguez recuperou a camisola rosa perdida na véspera, numa chegada em alta montanha em que deixou todos os favoritos para trás, permitindo-se ainda "oferecer" a vitória na etapa ao jovem Rabottini. Tiago Machado terminou a Volta à Califórnia num honroso 9º lugar da geral, mas pouco se fala nisso; ainda menos se fala no campeonato mundial de atletismo conquistado pela Seleção Nacional de Síndrome de Down. A equipa de basketball do FC Porto foi vencer o 4º jogo da final do campeonato à Luz, impedindo assim o Benfica de se sagrar campeão já hoje e adiando todas as decisões para a "negra", marcada para o Dragão na próxima quarta-feira. O Montpellier sagrou-se pela primeira vez Campeão de França, relegando o novo-milionário PSG para o 2º lugar, apenas dois anos após regressar à Primeira Liga Francesa. Todas estas situações contêm em si algo de irónico...

Mas a maior ironia vai mesmo para André Villas-Boas! Numa época em que a ambição desmedida o conduziu a um indisfarçável insucesso, o jovem e promissor técnico viu 3 dos seus adjuntos conquistarem títulos importantes. Vitor Pereira, Di Matteo e Pedro Emanuel estão certamente gratos por tudo o que aprenderam com Villas-Boas... mas a verdade é que foram eles a ficar com a glória que as suas opções lhe subtraíram. Ninguém pode duvidar do teu valor, Andrézinho, até pelo legado que deixas por onde passas, mas... vê lá se começas a escolher melhor os caminhos que queres para a tua carreira. Por mim, tens abertas as portas do Dragão, após um banho de humildade e um sincero mea culpa!